ENCRUZILHADAS
Por muito que goste do mundo
com tanto para me encantar
não escondo a minha angústia
dentro do fado que me guia
nas encruzilhadas do tempo
que a memória alivia.
Aos homens que nos governam
e corrompem o silêncio… digo
que nos amedronta o destino…
são trágicas as consequências
de muitas vidas frustradas
na melopeia das aparências.
Contra o ultraje à dignidade
não vou esconder a espada…
é loucura andar de mãos vazias
e perdoar as ofensas funestas
antes de arrancar a verdade
para os direitos usurpados
e perceber os olhares tensos
dos concidadãos revoltados.
Joaquim Coelho
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CONJUNTURA
Governantes e ditadores soberanos
ditam leis que causam danos
na vida dos servos machos,
de tão arrogantes e sem vergonha
são uma praga de peçonha
agarrados aos melhores tachos.
Ao suprimirem reais direitos
do futuro que é o nosso
ficar quieto não posso
nem ignorar a voz da razão
dos portugueses patriotas
que deram luz à libertação.
Essa gentalha da política podre
engorda que nem um odre
e já arreganha os dentes
aos ingénuos combatentes
de espingardas feitas de cravos
trata-os como indigentes
e fazem dos cidadãos seus escravos.
Contra a injustiça medonha
que nos causa sofrimento
e sobressaltos na velhice
não aceito a ladainha enfadonha
da conjuntura da nação…
porque será grande tolice
dar tréguas a essa escumalha
sem pensarmos na insurreição.
Joaquim Coelho
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SABOR DA MOCIDADE
Surpreendido com a tua amabilidade
recuperei os gestos de ternura
confinados à macieza da tua barriga
por onde passeio os dedos leves
nas carícias que mereces…
os olhos brilhantes e comoventes
tropeçam no amor inocente
renascido na cama onde me aqueces.
O amor existe… é bom ter e sentir
a abastança ao longo da vida…
amor profundo é bom saber fazer
sem enredos, sem conta e medida,
olhinhos luminosos, a meu gosto,
removem os escolhos da vida
sem fingimentos, é bom o mosto
com o encanto da felicidade
quando tem o sabor da mocidade.
É frágil a vida nos seus enredos
sem ilusões, somos convenientes,
o amor livre dos seus segredos
valida a verdade dos inocentes.
Joaquim Coelho
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