PRECONCEITOS?
Deste silêncio do Império desconfio...
um agente questiona-me os pensamentos
como português fragmentado no espaço
sinto a vida presa por um fio
mas hei-de cantar hinos à liberdade
as sombras ofuscantes dos sentidos
não me trocam os conhecimentos.
Estou no outono da caminhada
que me há-de levar à primavera,
tenacidade transporto na bagagem
e há muitos à espera da nova era…
viverei até que os deuses generosos
me dêem o contentamento esperado:
dias de paz para confraternizar
pelos feitos dignos e orgulhosos
sem as armas a apontar...
depressa antes de ser despedaçado.
Sagal, Março de 1966
Joaquim Coelho
BRISA NORTE
Aninhado na rotina da guerra,
arrisco perder a razão
porque estou aqui, outra terra,
sonhando afastar a ingratidão
voltar ao cais de embarque
pedir aos deuses um vento forte
e esperar que a brisa norte
ajude a empurrar a canoa
por esse mar de esperança.
Esperar uma coisa boa
para consolar cada criança
seguir a estrela refulgente
que me guia nesta vida
crente na vontade da gente
sem a liberdade merecida.
Nos momentos da desdita
a verdade que me empurra
vai além da força bendita
daquele que não é “turra”.
Mucojo, Março de 1966
Joaquim Coelho
«««««««««««««««««««««««««.
LOUCURA DA DONZELA
Um amor fogoso
incendeia qualquer coração;
mas um corpo dos desejos
incendeia a cama
e apela aos beijos…
Com teu gozo ardente
abres as alas do monte
e os gonzos pousam na púbis
que se ri do embaraço…
endureces o laço
no membro censurado
perdido e encantado
com as delícias aliadas
ao faustoso banquete
do traseiro cirandando
em curvas combinadas
no entesar do falo
enfiado na bichana
com um gozo de estalo
para toda a semana.
Lourenço Marques, Fevereiro de 1966
Joaquim Coelho
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