BRISA DA LIBERDADE
Se eu pudesse fugir para o infinito
vaguear sozinho no universo
conhecer outros mundos para viver;
se eu pudesse escolher o caminho
não ficava aqui preso à confusão
com um sotaque algo esquisito
no espaço dominado pelas balas
onde a vida está longe do infinito
da razão destes versos na minha mão
que apetece recitar um… apenas
um com tanta força como o trovão!
Se eu pudesse fugir para outro tempo
e sentir a brisa da Liberdade…
meu grito ouvir-se-ia em toda a terra!
E porque não posso escolher?
Está escrito nesta fatalidade…
Sem vontade, estou no meio da guerra.
Com tanto gladiadores para vencer,
estou confiante na probabilidade
de chegar a minha hora de viver…
Nangololo, Setembro de 1967
Joaquim Coelho
PARTILHAR A VIDA
Pego na caneta para escrevinhar
as estranhas formas do compasso,
e logo me ocorre a branda ideia
do contraditório, querer adivinhar
qual poderá ser o próximo passo;
a reflexão no tempo que medeia
o acto de bem querer e amar,
momento onde se podem partilhar
as emoções do encontro fulcral.
Uma paixão em transito acelerado
percorre a memória adormecida
e aquece as veias dos corpos;
em cada estampido do sussurro
no desaguar da seiva prometida.
É como um comprometimento
esta ideia de escrever a vida,
nas demandas, em cada momento
compartilho com outra gente
o renovar da piedade envelhecida;
ando sempre em busca do ninho,
e voando em contra corrente
encontro o destino no teu caminho!
Nacala, Julho de 1966
Joaquim Coelho
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À NAVEGAÇÃO
Olho o longe do firmamento
e vejo o cruzeiro do sul,
minha estrela do sossego,
quando as gotas de luar
iluminam o pensamento,
mas esta paixão não é culpada
por tão severo sofrimento
nem desta vida amargurada
e dos loucos rodopios…
que nos transformam em escombros
e corpos baleados e moribundos
que transportamos aos ombros.
Com a guerra em final de percurso,
todos almejam chegar ao seu fim;
mesmo esforçado como um urso,
tento fazer ver ao Jorge Jardim
que as memórias duram anos
e os gestos sem destemor
não acabam com os desenganos
mas acirram os ódios e a dor.
Beira, Setembro de 1967
Joaquim Coelho
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