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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Poemas do Tempo da Guerra 21

Ó PÁTRIA MINHA

Minha Pátria, minha paixão,
sei que horas amargas virão
longe do tempo presente
com espaços vagos e ideias ignotas
acções audazes inevitáveis
nas límpidas forças do coração
aqui espalhadas nestas palhotas
onde os corpos com feridas irreparáveis
ao criador estendem a mão
em luta contra o tempo da desonra.

Ao sabor das virtudes ainda vivas
vou cavalgando sobre as savanas
sem piedade pela pátria moribunda
onde um dia sabujos escribas
dirão que estas atribulações insanas
foram causadas pela tropa imunda.

As caminhadas dos invisíveis corcéis
de rostos com lágrimas furtivas
ficarão para sempre ligadas
às balofas decisões dos coronéis
que urdiram as logísticas esquivas
e atiraram os soldados às emboscadas.

Ó pátria minha, do coração,
por ti, sinto a fúria da poeira
que me tolhe o corpo cansado,
tento fazer valer a minha razão
reclamando o fim da fogueira
até que o tormento seja extirpado.
Mueda, Agosto de 1967
Joaquim Coelho
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... AI LIBERDADE
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Depois de hoje, o amanhã
será um dia de vitória
e a nossa vivência temporã
será um marco nesta história.

Ninguém acredita que é o fim
porque é tenra a nossa idade
mas esta guerra chama por mim
serei mensageiro da liberdade.

O corpo expande-se pela savana
com o objectivo no horizonte
mas o dia parece uma semana
e esta geração bate-se de fronte.

Há sinais de mudança pelos cantos
onde caminhamos com esperança;
sairemos daqui heróis ou santos
mas sempre cheios de confiança.

Macomia, Julho 1967
Joaquim Coelho





... FANTASIAS
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Abri a porta à fantasia que sinto
nos dias perdidos do sertão,
espaço ambíguo da solidão,
e logo o pensamento cai no labirinto
congeminado dum reino guardado
nas fronteiras do teu corpo inventado.

O gesto não interdita a infracção.
Mergulho na santa ingenuidade
que despertas em lúbricos desejos,
voluptuosas emoções exploradas,
cingido ao corpo da lubricidade
alcova coberta de pétalas e beijos
onde levitam os corpos entrelaçados
- encontro dos momentos sonhados.

Nacala, Junho de 1966
Joaquim Coelho
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... CHAMAMENTO…
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Se soubesse o que tens no peito
fugia desta solidão que me desgasta
e encontrava qualquer jeito
para te comunicar a mensagem
envolta no manto de incerteza;
terminava esta fantástica viagem
e corria ao sabor da natureza.

Sem ti, meu coração está triste
por não encontrar o caminho
e nem a esperança resiste
ao chamamento dum carinho...

Se ainda és a flor que eras,
vou procurar viver a fantasia
deste jardim de quimeras
até que te encontre algum dia!

Beira, Março de 1967
Joaquim Coelho
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