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sábado, 24 de julho de 2010

Poemas do Tempo da Guerra 20


.... A CARAVANA
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Os homens batem-se furiosamente
entre ideologias e densas florestas
criando plataformas de lutas
com engenhos e forças letais
que lançam para as sarjetas
os valores dos nobres ideais.

São cenários secos e tenebrosos
por onde avançam buliçosos
os comboios de viaturas verdes
que sacodem a poeira das picadas
seguindo os destinos dolorosos
à procura da paz nas sanzalas
perdidas nos confins do mato
entre a última lufada de balas.

Cada soldado sente a noite quente
com a artilharia lançando fogo
prevendo um forte envolvimento;
os nervos duros e rostos tisnados
no olhar movediço de emoção
deixam o destino ao pensamento
que se adivinha desejoso de voltar
fora dos caminhos da destruição.

São correrias e saltos incertos
com gestos bruscos e confusos
dentro do cenário da guerra…
tantos actores descompassados
com destinos breves e difusos
passados bem longe da sua terra
entre florestas de todas as cores
de olhos abertos, colhem flores.

Nangade, Agosto de 1967
Joaquim Coelho
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.... TRILHOS DA GUERRA
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Aqui… com os soldados
sinto que não tenho ninguém
que perceba o meu sonho irreverente
de contida esperança!

A fantasia que me é ingrata
só traz amargura e sofrimento
e as saudades do meu tempo de menino
quando a minha mãe dava o alento
para caminhar alegre e seguro
sem temer os tempos do futuro!

Agora… nos trilhos da guerra
com o corpo acabrunhado
e a alma triste e desalenta
ando por aqui entre o capim
galgando as matas agrestes
e arrastando a pesada mochila.

Ai, se eu pudesse contar as paisagens
e a verdura das árvores engalanadas
sentado, como de costume,
no regaço de minha mãe…
não teria estas lágrimas amargas
nos olhos baços e toldados
pela última visão da guerra:
a morte levou dois soldados
para as profundezas da terra.

Mas eu hei-de voltar
antes que seja muito tarde…
hei-de pisar outros caminhos
e os campos semeados…
as crianças terão os meus carinhos
e eu dormirei de olhos fechados.

Será uma chegada deslumbrante
que acalmará os mais indecisos
nesta missão triunfante…
até as formosos violetas
vão festejar a vitória desta ventura
que vai queimar as horas mais pretas
de toda a minha desventura!

Nangade, Julho de 1967
Joaquim Coelho

... CONVICÇÃO
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Isto não é um infortúnio
é a desgraça
de estarmos numa guerra
que o tempo não aceita
e o mundo se opõe...

Num dia luminoso
não muito tarde
com sol radioso,
veremos os nossos irmãos
as nossas namoradas
as nossas mulheres
as nossas mães...
os nossos amigos
em qualquer lugar do destino.

Numa alvorada
que não está longe
nascerá a esperança...
a realidade dos sonhos
e a vida a florescer
como um imenso clarão;
projectos medonhos
hão-de nascer
com a força dum vulcão.

Tudo está dentro de nós
pronto a expandir
as reprimidas emoções
energias em turbilhões
que hão-de explodir
e espalhar a liberdade

Um dia
viveremos a mocidade.

Mueda, Setembro de 1967
Joaquim Coelho
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... CANÇÃO DE AMOR
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Um sonho indeciso e vago
procurando a vida em cada dia
no caminho onde divago.

A vida fechada na solidão
é fruto do néctar da flor bela,
do pensamento sai o clarão
onde fico a contemplar
o rumo da celestial estrela
que me deixa aqui a penar!

Nas trevas da noite indecisa
há uma sombra maravilhosa…
a saudade…. canção de amor
na longínqua África sequiosa
vem ouvir esta canção de dor,
vem colorida e formosa!

Nacala, Dezembro de 1966
Joaquim Coelho
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