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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Poemas dos Tempos - Moçambique 70

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          LONGA  ESPERA

Aqui sitiado no inferno de Miteda
rodeado de medonhas incertezas,
olho para o céu claro... infinito
desejo visionar o avião salvador
que sobrevoe pelas redondezas...
e nas ondas da sorte, o bendito
possa embarcar a minha dor!

Sob os olhares dos abandonados,
as mãos trémulas apontam o horizonte
para Mueda, azimute ao norte...
tarda a resposta nos rádios ligados,
agravam-se as feridas dos soldados
que agonizam com a dor forte!
  
Passa-me pela fronte o calafrio
na espera angustiante da morte…
as febres mais nos fazem definhar
e as forças já esmorecem o querer,
com a esperança na onda a captar
um avião a caminho do norte…
não tarda e volta para nos socorrer
e quebrar o enguiço da má sorte.

Serão as derradeiras horas de agonia?
Nasce a esperança e um novo dia…
às três da tarde, aterragem tremida,
a Dornier parou por alguns instantes:
embarcam três com a alma ferida...
nos dias seguintes vão os restantes.  

Miteda, 27 de Julho de 1966 
Joaquim Coelho    

NOTA:
Depois da emboscada no Vale de Miteda,
caminhamos pela mata até ao
Aquartelamento de Miteda.
Ali ficaram 6 Pára-quedistas,
entre feridos e doentes com paludismo,
sem saberem o dia de evacuação para Mueda…    





       SOLOS FUNÉREOS

Vinde, ó músicos das catedrais,
chicotear os nossos pesadelos
com solos de caveiras desfiguradas;
enquanto tremulam as sensações
das crenças apagadas
repudiamos os cobardes animais
desta selva de ladrões...

Festejai a derradeira missão
que os soldados querem cumprir!
Porque é tudo a bem da nação
dum poder que vos põe a fugir.   

Aquecei a manta que nos serve
para cobrir estes cadáveres...
deixai a música confundir
os gritos desesperados
desta caneta que se atreve
a descrever choros subterrâneos
dos combatentes desfigurados...

             Mueda, Setembro de 1967  
Joaquim Coelho       

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       DEVANEIOS NO ÍNDICO

Hoje olhei o Índico transparente
        apeteceu-me
procurar as coordenadas do teu coração
apontar no mapa, indiferente,
        pareceu-me
vislumbrar o caminho na tua direcção.

Já Mocímboa fica no horizonte
        distante
e a tua formosa imagem se reflecte
no céu  que fica de fronte
        equidistante
do caminho de Mueda, que se repete.

Divagando,  vou pintando a alma
        multicolor
para que o tempo me seja breve
com suaves tons de calma
        amor
a condizer com o que se escreve.

       Diaca, Outubro  de 1966
Joaquim Coelho

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