... LONJURA AFRICANA
Ouço o eco longínquo
perdido do outro lado do mar…
a minha carta perdida
dentro da carlinga do avião
vai espalhar esperança no céu
que me enfeitiça de manhã.
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Nesta lonjura africana
que embriaga as distâncias
sem um gesto de ternura
fico extasiado na frescura
das florestas com fragrâncias;
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assim estendo o pensamento
nas águas do mar peregrino
acreditando que o tormento
dissolva as lágrimas do menino.
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Sentindo a vontade do mar
que o navio deixou longe
sigo ao sabor do vento
que balanceia o pensamento
que me não deixa naufragar.
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Encontro conforto na esteira
desta amarga solidão…
pode ser a loucura derradeira
que me engana o coração!
Songo, Dezembro de 1961
Joaquim Coelho
.... GOLPE DE MÃO
Na estrada do Piri, aos solavancos
para as densas matas de Quitexe,
as viaturas loucas avançam...
atentos ao bandido que ainda mexe
os soldados de camuflados às cores
confundem-se com o verde do capim.
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Para trás deixam os tenros amores!
as bebedeiras de poeira sem fim
obrigam ao silêncio das gargantas,
e em cada curva da picada sinuosa
o perigo esconde-se nas plantas!
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Mas os gananciosos obreiros coloniais
já não se afoitam como dantes...
recolhidos ao aconchego da cidade,
vivem rodeados de criados e amantes.
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E nós, combatentes e detestados,
estamos a comer o pó do sertão,
enquanto caminhamos sufocados
até ao derradeiro golpe de mão!
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Quibaxe, Fevereiro de 1962
Joaquim Coelho
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... DOCE SALADA
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Motorista fula-fula hué
vem passear na Samba
colher a amarela manga
fazer a salada na doçura
do meu corpo a gingar
anca boa que apetece
comer castanha de caju
chupar o figo maduro
e a seiva que abastece;
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mistura mamão e pipoca
bem dentro da tua boca
abacate de sabor torrado
a teu jeito bem sugado
com tanta delicadeza
e requintes de princesa.
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No teu corpo gingão
apanho gostoso abacaxi
misturado com a ternura
que tens na palma da mão
deixo a singela doçura
dum sonho em formação
saiba tu dele cuidar
para não amachucar.
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Luanda, Março de 1962
Joaquim Coelho
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