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sábado, 7 de agosto de 2010
Poemas do Tempo da Guerra 23
.. HORA DO CAOS
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O tempo respira a angústia do dia
em que quis melhorar a harmonia
das imagens guardadas na cabeça.
Não vou inventar o drama que pareça
confrontar o mal e o caos da guerra,
nem os corpos esfacelados a fugir,
espalhando o sangue pela terra!
Estaremos numa guerra a fingir...
com soldados espetados no chão,
estilhaços cortantes como espadas
que vão ceifando as nossas vidas
embarcadas num estranho avião?
Sagal, Junho de 1966
Joaquim Coelho
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... ESPAÇO FRIO
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Sofro por causa da cruel certeza
que mata em cada manhã suspensa
das estrelas que se deslocam apagadas
e me deixam nesta escuridão… só!
Deparo com mais um corpo na tumba
à espera que a agressão sucumba
aos combatentes que metem dó.
O combate é duro, para sobreviver,
aos ruídos da raiva que agudiza o saber
e assimila a razão das dúvidas;
as vozes camufladas explodem
na subversão lógica das gargantas
que contestam o espaço insubmisso
dos mortos no meio das machambas.
Nos rostos dos companheiros tensos
desliza a raiva no ranger dos dentes…
serão estes sinais suspensos
que nos fazem seres diferentes?
O reflexo do aconchego dos corpos
que dormem à míngua dos deuses
não me deixa descansar no sono
que preciso reparador e calmo.
Olho ao longe… vejo as fronteiras
que tenho de passar aos solavancos,
desafio a mordaça que me oprime
e arrisco ser enjaulado na verdade
que a convicção fervorosa redime
na fria brandura da solidariedade.
Estreitam-se as malhas da opressão,
causa da minha tristeza e revolta,
ao escrever os sinais da convulsão
em cânticos da liberdade que conforta
a minha alma em cada amanhecer…
nos labirintos da guerra vou sobreviver.
Macomia, Abril de 1967
Joaquim Coelho
.. CARTAS AO VENTO
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Quero viver a ironia do equívoco
como quem se afoga
na verdade do sofrimento...
antes de mim, companheiros,
outros vegetaram... e o seu lamento
ecoou pelas savanas,
grito dos heróis verdadeiros
com os corpos em pantanas!
Enquanto equivocado,
estou à mercê da tragédia
das brutais emboscadas,
e também sofro um bocado
quando já sinto a masmorra
como as almas penadas.
O vento sopra noutro sentido
e já os salazarentos se afundam…
não me tirem o que é permitido:
os sentimentos que abundam.
M. Praia, Setembro de 1967
Joaquim Coelho
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.. DESPERTAR
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Nesta amálgama de fantasia
ensombram-se os sinais de alegria
traçando linhas divergentes,
razão de tantos descontentes,
quando sentimos fugir o tempo
num dialogo morno, sem alento!
Porque estamos a ficar distantes
do sentimento dos amantes,
e do rumo que a vida nos aponta
é tempo de reflectir, tirar a conta,
e render honra à evidência
que nos faz pensar com prudência.
Na hora do entardecer venturoso
ficámos como o pássaro ditoso
a olhar o abismo da incerteza
e presos no palácio da vileza…
se a vida não vislumbra felicidade,
vai amor… acarinha a liberdade.
Tenho vontade de subir ás estrelas
aproveitar as coisas mais belas
e combater o premente capricho
que envolve a vida no lixo.
Antes quero uma pétala florida
e um coração para me dar guarida.
Beira, Agosto de 1967
Joaquim Coelho
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Um sentido de vida solidária com os que me são próximos; de aprendizagem permamente; alguns anos de jornalismo de investigação, em paralelo com outras actividades, deixaram sinais que não posso esconder.
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