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terça-feira, 21 de junho de 2011

Poemas do tempo da Guerra - Angola 57

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   DEIXEM CANTAR O HINO

Abrandem as secretas amarras
deixem voar o meu pensamento,
dançar no batuque da liberdade
gozar a mística dos corpos nus
na transparência da alma acrisolada.

Deixem-me  sair da clandestinidade
onde perdi a vontade que dispus
em desespero da razão mistificada,
mesmo uma miragem, é a verdade
que vibra dentro de mim...

Abrandem esta violência, ruim
para os povos em busca do oásis
de qualquer movimento divino;
    eu vou cantar um hino...
para comemorar esse momento
    eu quero ser um menino
para voar ao sabor do vento.

Deixem-me seguir nessa dança
    brincar com qualquer criança
    viver a desejada solicitação
antes de me atirarem p’ro caixão.
 
         Luanda, Outubro de 1962

 Joaquim Coelho
                                                                                                                                                           
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    DESEJO   OPRIMIDO

Eu queria ser um menino
caminhando pela cidade além,

com uma vela de peregrino
portador da nobre mensagem
para comunicar ao mundo...
razões do grave queixume
censor do pensamento fecundo
dos que alimentam o lume!

O meu sonho do coração
bem o quero concretizar,
mas o destino está numa mão
que teima em me acorrentar...

passarei a ser vagabundo
oprimido, no meu desgosto infindo
cativo do desejo profundo
que até do tormento estou fugindo.

Lanço as palavras no charco
com a mensagem bem directa
porque a mordaça que abarco
a alma pouco me afecta.

     S. Salvador do Congo, Natal de 1961

         Joaquim Coelho




DESESPERO DA AUSÊNCIA-CARTAS DE LONGE – 1
 Se as tardes estão serenas é porque os nossos corações batem certos, no ritmo que a vida nos proporciona. A hora triste da despedida causou grande emoção, e agora esta ansiedade de nos olharmos naturalmente, mostra que temos necessidade de estar perto de Deus para que sejam minimizadas as dificuldades que nos afectam os dons espirituais, enquanto o drama da guerra causa danos .
Sejamos fortes e naturais e a vontade de vencer jamais esmorecerá dentro de nós. Porque amamos com naturalidade, apenas a ausência e a saudade nos causam padecimentos - pois, a dor que sentimos não deixa de ser custosa, mas saberemos encontrar os melhores remédios dentro dos condicionalismos que temos presentes. Muitas vezes, o querer estar junto de quem se ama é um desejo tão intenso que precisamos de arte e saber para o transformar-mos em momentos de reflexão.

Amo-te cada vez com mais certezas
com a coragem que tu compreendes
toca-me o desespero da ausência
nestes dias das incertezas
sinto-me bem quando respondes
e fico mais calmo para esperar.

Tanto para dizer ao ouvido
que não se encontra no silêncio
das palavras que escrevo com sentido
o presente amarga e causa dor
mas o futuro terá muito mais amor
e a merecida recompensa
das coisas boas que a gente pensa.

A natureza que nos desperta
nas noites cálidas do porvir
também mostra o sol pela fresta
porque temos força para resistir.

          Luanda, Julho de 1962

       Joaquim Coelho
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