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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Poemas dos Tempos Ang 36

 

... CAMINHOS DO NORTE
.
Quando avançamos para o norte
com toda a força da nossa raça
não tememos mais a morte...
no regresso marchamos na praça!

Frente aos perigos das emboscadas
cavalgamos nos unimogues cinzentos,
e para cumprir as nossas jornadas
enfrentamos graves tormentos.

Avançamos até aos confins de Angola
com toda a vontade para vencer
os inimigos deste povo que se amola
e amassa o pão que não vai comer.

Nas rudes picadas do norte
onde entramos ao amanhecer
joga-se uma migalha de sorte,
porque a vida não se pode perder.

Uma missão nos braços da pátria
que me vai incitando a avançar,
na convicção de que é mátria
esta estranha forma de consolar.

Negage, Julho de 1962
Joaquim Coelho




....   ACREDITAMOS
.
Tempo do encontro sublime
no horizonte do porvir
e um sonho que me redime
na esperança de te ouvir.

O abismo será caminho plano
no reino do bem querer
porque voamos num aeroplano
até à vida que vamos ter.

E assim seguimos em frente
com o vento de feição
quando o amor que se sente
aquece bem o coração.

Sombras até podem surgir
em tons de rudes mundanos,
mas se confiamos no porvir
não tememos os desenganos.

Luanda, Março de 1963
Joaquim Coelho
«««««««««««««««
...
..  ANGOLA DA SAUDADE
.
Do alto da imaginária montanha
onde vivo as memórias a sonhar,
sinto saudades da campanha
e logo começo a recordar…

A beleza estonteante de Luanda
e os barquinhos a boiar na Baía,
luzes multicores daquela banda
após o crepúsculo de cada dia.

A Ilha com praias de finas areias
com grandes ondas a marulhar,
onde as encantadoras sereias
nos deixam os cabelos afagar.

Saudade das recortadas avenidas
e a silhuetas das alegres mulatas
que procuram encontrar as saídas
para fugirem da fuba e das cubatas.

Os coqueiros de ramos pendentes
em tons de donaire, esverdeados,
ando sombra aos descontentes
que passam a vida espraiados.

As sanzalas, os odores fedorentos,
em cima dos morros e dos outeiros,
cobertas de capim em tons cinzentos
perfiladas em forma de canteiros.

O capim… seco e amarelado
engalanando as longas picadas
brilha como o céu estrelado
nos dias de grandes queimadas.

V.N. de Gaia, Março de 1982

Joaquim Coelho
.

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