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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Poemas dos Tempos Ang 38


...  MORROS DE QUICABO

Dor amarga na languidez do mundo
que tolhes o espírito benevolente…
deixa caminhar o corpo moribundo
causticado pelo vento das nortadas
vindo da lonjura das montanhas
engalanadas de sonhos perfumados;
deixa-me descobrir a solidão
que vai entrando pelas frestas
e castiga os pobres do sertão.
.
De Nambuangongo a Quicabo
os caminhos em declive sinuoso
deixam as poeiras tresmalhadas
asssombrar os horizontes distantes
onde disfarçamos esta agonia
dos sulcos na carne esfacelada
movida nos gestos comunicantes
dos combates em cada novo dia.
.
Afagando a espingarda em riste,
as mãos sentem os espinhos
cravados na dor longínqua
que se dissolve em torvelinhos…
o rosto coberto de pó, desfigurado,
segura os laivos de esperança
que trazem o coração aconchegado
aos meus sonhos de criança!
.
Quicabo, Julho de 1962

Joaquim Coelho



...         O REPOUSO


Toda a noite adormecido na manta
que me safou da cacimbada traiçoeira,
já refeito do suspiro preso na garganta
senti a euforia intensa da fogueira...
.
Logo o turbilhão escaldante do tiroteio
me excitou o cheiro acre da queimada;
avancei como um cavalo sem freio...
já sonhava com o calor da bem-amada:
.
não tinha missangas no regaço
mas contorcia as ancas roliças e densas
quando se envolvia bem no pedaço
que o sonho lhe oferecia sem ofensas.
.
A certeza dos bons tiques quimbundo
acentuava o silêncio mágico das palavras,
vivia contente e alegre - noutro mundo
montada nas alucinações ocas das cabras.
.
Ideias enigmáticas me apoquentaram
durante o sono meio estremunhado,
estão frescas as horas que atormentaram
este meu corpo exangue, desmotivado.
.
Dembos-Quicabo, Março de 1962

Joaquim Coelho
zzzzzzzzzzzzzzzzzzz
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..      ESPERANÇA DILUÍDA


A verdade chega sempre no momento
em que a nostalgia diluída na beleza
deixa de nublar os olhos tristes.
.
Envoltos na intimidade da natureza,
fujamos à música funérea do ódio
que amachuca o gozo da felicidade.
.
Não precisamos de subir ao pódio
para absorver o dom da generosidade
alimento da vontade do combate;
são os fragmentos das virtudes
que temperam as energias dilatadas
e apagam a incerteza do embate.
.
Porque está em perigo a redenção
e o redimir das crenças inconformadas,
não posso deambular perante a razão...
o efeito das tuas palavras íntimas
é como um raio de luz vivificante:
.
transmitem gestos ternos e suaves
e acalentam o futuro deslizante
onde tenho sentido dores graves.
.
Mas a esperança sinto-a no carinho
com que toleras a minha demora...
assim me vais aveludando o caminho
até que eu possa sair daqui p’ra fora!
.
Luanda, Dezembro de1962

Joaquim Coelho
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