TRATADOS DE ROMA
Nunca o imperador César Augusto
conseguiu dominar os lusitanos
nem a generosa protecção de Zeus
entusiasmou este povo da terra
que nos legaram valiosos feitos
nos descobrimentos sem causar dano
ensinaram o cultivo sem guerra
e outros modos de vida mundano.
A eloquência dos cânticos a Ovídio
conjugados na prosa de Horácio
não conseguiram enganar este povo
que sempre confiou no seu querer
sem se deixar embarcar na penosidade
dos males que a estranha divindade
prometia com os invasores romanos.
Nunca pensaram encontrar o inferno
dos subsídios que os tratados ofertam
para desmantelar as hortas e as searas
e deixarem o povo à mercê da loucura
das convenções que nunca acertam
p’ra manter os campos com verdura.
Perdido o esplendor da natureza
ficamos à mercê dos mecenas europeus
que aniquilam as últimas sementeiras
abatem os barcos com os camafeus
e traçam as incertezas do futuro
do meu povo penhorado e sem jeiras
assombrado no perjúrio do escuro.
Ermesinde, Março de 1996
Joaquim Coelho
A SELVA
Nesta selva de aldrabões
que se agigantam na gestão
das nossas vidas colectivas
não há lugar para os fracos
nem tempo para contemplações
dos direitos demolidos
que nos causam aflições
e mais passos perdidos!
Eis que chegou o momento
de saltarmos a barreira
e atirarmos para a lixeira
os malfeitores que abundam
na sociedade desmiolada
onde somos espezinhados
até às minúsculas células,
maltratados e escravizados
sem direito a reclamações
a vida já é um tormento
no inferno das maldições.
No mundo de leis proféticas
onde abundam os aldrabões,
não faltam as cenas patéticas
na dança desses sabichões.
Joaquim Coelho
SILÊNCIO NO OLIMPO
Dedilhando a harpa do tempo
os sonoros timbres a vibrar
correm sem o contratempo
na busca do mais sereno lugar.
A ninfa de lábios mimosos
de encantos no olhar gentil
dá beijos doces e gostosos
como um presente de Abril.
Não lhe ofereço taças de oiro
só uma profunda amizade
que faça de nós um tesoiro
e o eco da fraternidade.
O Olimpo é a nossa mansão
cheio de estrelas formosas
e as almas são como são
mesquinhas e melindrosas.
Sentem-se as ondas do mar
bater nos olhos com receio
do teu corpo singelo quebrar
e ficar o meu de permeio.
Silêncio no Olimpo da vida!
as aves aplaudem calmamente
perante a turba aturdida
e a realidade inconveniente.
Há nobreza nos laços de amor
que fervilha aos turbilhões,
porque fomentam tanta dor
e distorcem o sentir dos corações.
Oh ninfa, formosa companheira,
acautela-te das vozes inconstantes
que na sociedade rotineira
nos atingem em todos os instantes.
Enaltece os princípios nobres
movendo os desejos ardentes
e deixa vibrar o que encobres
nos gestos curvilíneos e ardentes.
14.4.83
Joaquim Coelho
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