SALVAR A NAÇÃO
Ao vermos reunir a hierarquia
não podemos continuar na ilusão
deste modelo de democracia…
agrava-se a fissura dolorosa
nesta desordem da traição
ordenada pela máfia tenebrosa
que falseia a paz e corrói a calma
inventa e disfarça a imagem
deste país sem alma
dominado por servis lacaios
que aprofundam a desigualdade
e reprimem a liberdade.
Dizem querer salvar a nação
com os poderes desconexos
e leis de extrema humilhação
dos cidadãos que produzem;
com os discursos convexos
tentam enganar os incautos
mas as palavras só seduzem
os seus mandarins arautos…
nem os parasitas ferozes
calarão as nossas vozes.
A injustiça que nos afronta
os ânimos e a acalmia
terá sempre resposta pronta
nas jornadas de cada dia.
Os discursos são indigestos
e os salários são de penúria
porque só ficam os restos
para aumentar a nossa fúria.
Quem mendiga os seus direitos
e sente o ultraje da repressão
não dará tréguas a esses sujeitos
que sugam o sangue e o suor
até nos atirarem p’ro caixão.
Joaquim Coelho
.
AS FACES DO OCULTO
Acreditar nos fantasmas do além
é aceitar o enredo da ocultação
que uns senhores da ladroagem
usam nas manhas da extorsão.
Aos ladrões faço um manguito!
uso raros truques de magia
para entender o país roubado,
mas vou perdendo a habilidade
de decifrar o fim do teorema
da trama dos finos arguidos
que tratam de chorudos negócios
e a justiça perdida no esquema.
Hei-de arranjar um sistema
para deitar mão aos ladrões…
vou construir um teorema
e desmontar a comandita
que se apodera do país
onde a secreta maldita
oculta essa corja de gestores
montados no orçamento
que nos faz mais devedores.
Peço aos cidadãos enganados
para mudarem de planeta…
cada vez mais espoliados
com a roubalheira pegada,
sendo a justiça uma treta
vamos tratá-los à bastonada.
Valongo, Novembro de 2009
Joaquim Coelho
NOITES ATRIBULADAS
Um gemido deleitoso ecoa
na fronteira dos guettos
- recanto esburacado da cidade –
e os corpos das donzelas impúberes
se agitam com gestos sedutores
no silencioso gesticular das ancas
ondulantes fontes dos amores…
Corpos aparentemente aconchegados
no recôndito dos sentidos hirtos
sem medo da devassada intimidade
saciam a carência da verdade
onde os encantos mágicos
premeiam a génese do Amor.
Segredos de alcovas luxuriantes
de apetitosas madames emplumadas
emergem das noites perfumadas
cheias de harpejos deslumbrantes
e armadura de cambraia reflectora
nos olhares dos meliantes
em cama alheia acolhedora.
Os ventres ansiosos e sedentos
da frescura sumarenta
absorvem o líquido fecundante
empinado na calçada lamacenta
com tanta sofreguidão
que o harpejo ejaculante
se contorce de gostosa emoção.
O contra-senso virtuoso dos amantes
encontra-se no amor flutuante…
muitas vezes sem retorno
que devassa o instinto de quem ama
e deforma a razão de tanta entrega…
um acasalamento morno
quando se apaga a chama!
A orgia dos maldizentes alcoviteiros
ostentada nos aparatos das janelas
deleita-se nos contornos das alcovas
de carnes recolhidas nas vielas…
ambição das frutas novas
em dias de fluxo menstrual
a convergir no gesto erótico-sensual.
A profundeza da consolação onírica
acasa-la no desejo de amar
além do sentido da devoção
no enlevo do cio acrisolado
que transforma os gestos e impulsos
em gozo de profunda emoção
dentro do corpo aliviado.
Os sucessivos orgasmos mornos
expressos nas longas fantasias
movimentam as nervuras sedosas
adornos das saborosas orgias
saciando os órgãos entesados
servidos nos cais conspurcados
aos noctívagos forasteiros.
A contra-verdade deste império
está nos montes de carne pétrea
trémula e desnaturada
que provoca agonia no reparo
fantasia quente e masturbada
em lufadas de gozo às debutantes
que lambem o néctar mais caro.
O sentido destas vidas perdidas
sem compromissos formais
oscila entre a sarjeta funcional
e a carícia fria e mecanizada
afinada no encontro ocasional
momento de gozo gotejante
na caverna tenra da debutante.
O drama adensa a marginalidade
dos contactos inseguros e frios…
enchem-se os ventres contorcidos
das donzelas impúberes desprevenidas
presas às ciladas da vida
amarguradas com o destino infeliz
rendidas à solidão das avenidas
onde esperam que nasça o petiz.
(viagem nas noites lisboetas)
Joaquim Coelho
Sem comentários:
Enviar um comentário