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terça-feira, 19 de outubro de 2010
Poemas do Tempo da Guerra 1
.. COMPLEMENTOS
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Nenhum soldado está completo,
se não sente o corpo e o esqueleto!
Sabe bem porque existe...
respeita a morte alegre e triste;
faz a guerra e ama a paz,
na solidão dos ausentes!
Sacrifica a juventude fugaz
com altruísmo de tons diferentes;
fuzila os inimigos decadentes
e dá de comer aos pássaros
considerados seus iguais.
Empenha-se na luta contra o mal
defendendo a vida que tem,
eleva a nobreza dum ideal
e enobrece os amigos também.
Olha o firmamento com respeito
e vê nas estrelas o destino,
escuta o coração que tem no peito
como um mandamento divino...
ama a vida no reino da morte
e recomenda a deus a sua sorte!
Quibaxe, Dezembro de 1961
Joaquim Coelho
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... CAMINHOS do NORTE
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Quando avançamos para o norte
com toda a força da nossa raça
não tememos mais a morte...
no regresso marchamos na praça!
Frente aos perigos das emboscadas
cavalgamos nos unimogues cinzentos,
e para cumprir as nossas jornadas
enfrentamos graves tormentos.
Avançamos até aos confins de Angola
com toda a vontade para vencer
os inimigos deste povo que se amola
e amassa o pão que não vai comer.
Nas rudes picadas do norte
onde entramos ao amanhecer
joga-se uma migalha de sorte,
porque a vida não se pode perder.
Uma missão nos braços da pátria
que me vai incitando a avançar,
na convicção de que é mátria
esta estranha forma de consolar.
Negage, Julho de 1962
Joaquim Coelho
... O REGRESSO
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Depois da luta
há sombras escuras
numa estrada incerta
longa, triste
chamada vida.
E estas cabeças
sentem o delírio
duma vitória
que nos traz glória
com o martírio...
Fatos de tons viris
cobertos de terra cinzenta
em corpos joviais
com os rostos amarelados
cobertos de poeira.
As bocas cheias de sede
maldizem das matas
amaldiçoam o tempo
e fazem o chinfrim
contra a aspereza do capim!
Depois... voltam
de espírito puro e enfunado,
prazenteiros de alma
de corpo maltratado
e ternos de coração
numa camaradagem infinda!
É o regresso...
Para trás ficam negras dores
mas nas suas veias... ainda
corre o sangue generoso
da mocidade sem flores.
Pára-quedistas - “bichos do capim”
Combatentes - fantasmas.
“Páras” arrojados
todos iguais, com a mesma sede
com a mesma alma, determinados!
“Páras” cinzentos, sujos e feios...
“Páras” da morte e da glória,
Homens das alturas
da guerra e da paz.
Homens de todos os destinos
no rumo dos seus hinos
largados no espaço etéreo
desafiando a morte
combatendo e sonhando...
sempre sonhando...
com melhor sorte!
Angola-Quicabo, Fevereiro de 1962
Joaquim Coelho
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.... ACESSOS
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Ao enrolar os ramos da bungavília
na escuridão dos teus cabelos
senti o respirar ofegante...
sinal da entrega em movimento
dos corpos à espera do instante
do sussurro que quebra o silêncio,
as mãos já urdiam com mestria
o lençol lindo onde te estendes
e os dedos farejavam a penugem
ao poisar a glande entesada
nas carnes aveludadas do teu ventre,
o tempo rompeu os meus sentidos
mergulhados em estranhos ruídos
e depois de vasculhar os acessos
sinti os teus braços travessos
contornar o meu corpo desmaiado…
ia alta a noite e o tempo gozado
deixou-me ficar descompassado.
Mussulo, Setembro de 1962
Joaquim Coelho
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Um sentido de vida solidária com os que me são próximos; de aprendizagem permamente; alguns anos de jornalismo de investigação, em paralelo com outras actividades, deixaram sinais que não posso esconder.
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