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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Poemas do Tempo da Guerra 2

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.. O DESFILE

Os maçaricos na avenida, garbosos,
Batem com as botas no chão
Mostram que são os mais corajosos
Para cumprirem a comissão.

As moçoilas ladeiam as avenidas
Conjecturando os coitados
Que vão gozar as mais queridas
Antes que sejam deslocados.

Passam pela Baía os olhares
Sem respeito pelos veteranos
Que esperam dias melhores
Longe destes tempos insanos.

Garotas lindas e endiabradas,
Sempre a trocar de amores
Enquanto dais as gargalhadas,
Nós desfolhamos as flores…

Luanda, Outubro de 1961
Joaquim Coelho
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.. EXORTAÇÃO

Sem temer as longas jornadas
embrenhados na exótica vastidão,
com o esforço nas faces suadas
e a beleza que nos prende o coração...

Em saltos rasantes, prazenteiros,
parecem aves em voos certeiros
caindo do azul do céu...
espíritos refulgentes e audaciosos
não temem rastejar em noites de breu,
depois de lançados em voos perigosos
onde desenham os leves perfis
no desafio às condições hostis!

São macabras as bestialidades
nas florestas de suaves tonalidades,
corpos decepados e retalhados
deixam marcas tristes na memória,
dias de amargura e de saudades
da aldeia de caminhos orvalhados.

As poeiras esquisitas e molhadas
encobrem a dor dentro dos olhos;
uma imensidão de finos escolhos
limita o percurso nas “picadas”...

Senhores, deixai viver os soldados
forçados à condição de batalhar
com os corpos tensos e cansados
e a alma desejosa de voltar...

Toto, Janeiro de 1962
Joaquim Coelho
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... ESPAÇOS

É infinito o espaço para o sonho da vida
quando o coração bate docemente
perdura a amizade sem medida
e o corpo sofre porque és ausente.

Os instantes em que aferi a imagem
que desenham as palavras de apreço
foram breves nos meus olhos em viagem
como a simpatia que te serve de adereço.

A tua voz doce prolonga-se no espaço
e deixou eco nos meus ouvidos
deu o timbre ao poema que faço
quando a imagem desliza nos sentidos.

Habitas no aconchego da memória
onde se renovam momentos de ventura,
o melhor desta benevolente história
é o sorriso calmo da minha ternura.

Não sei se entendes a brisa suave
que difundes dos olhos fascinantes,
mas não consideres pertinência grave
quando os sentidos estão distantes.

Não me esquivo às lufadas de vida
que encontro nas noites de aventura,
porque o feitiço é saborosa bebida
que me enche o coração de ternura.

Luanda, Agosto de 1962
Joaquim Coelho
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.. GESTO SECRETO

São longos os dias
quando o suave amanhecer
me diz que és ausente
deste meu ingrato viver,
em direcção às estrelas
e começo a decifrar o firmamento
mas nada me dizem de momento...

mas as rosas com espinhos
não deixam de exalar perfume.
com este gesto secreto
uma nova esperança renasce
na transparência das palavras
que atiro para o papel
e a luz dá vida ao sonho
desvendando o amor que reparto
no aconchego do nobre gesto.

Contigo, rosa florida,
posso repartir a alegria
onde cabe todo o nosso amor,
posso enlaçar os braços
e abraçar com ternura
deixar no teu corpo os traços
como um rei majestoso
que mostra a sua bravura.

À Minha primeira namorada
Angola – 1961
Joaquim Coelho
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