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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Poemas dos Tempos - Portugal 74

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          PERPLEXIDADES

Não me digam que somos anjos
só porque pintamos o silêncio de branco
e absorvemos a luz que nos deixam
manear com a alma adormecida
pelos gestos castos e brandos…

Há sempre um grito que se escapa
nos momentos de grande dor…
todos os dias são preciosos
quando vividos com amor.

Prevendo a degradação da alma
escrevo versos para me consolar
animado pelo sopro da natureza
essencial ao corpo limitado…
a perplexa verdade duma certeza
que é tudo acabar na mortalidade
do corpo corrompido, abandonado,
se a alma deixar de o consolar
nas horas de extrema aflição!

É tempo de reforçar os pilares
com ideias mais iluminadas…
discernir a vida com fundamento
bem longe das almas penadas
sem condições de sustento,
longe da matéria envenenada,
que nos corrompe a inteligência
e aniquila o pensamento profundo,
instrumento da transcendência
que move a alma do mundo.

  Joaquim Coelho




       COPOS DE VENENO

Eu não temo o mundo distante
que me seduz com ligeireza,
são as mentes adormecidas
em cada instante
que me causam incerteza.

O que perturba é a falta de verdade
os sofismas dos agentes da política
que nos servem copos de veneno
e cobrem os corpos dos mendigos
com a injustiça da partilha do feno
que desperdiçam nos seus umbigos
e nas palestras graves da mentira
que ameaçam os espoliados da vida.

Há um temor que me estremece
em cada instante dos negros dias;
roubam aos humildes desprotegidos,
que vivem o degredo das almas penadas
sem espaço para respirar as alegrias,
e aconchegam as fortunas acumuladas
longe dos refúgios poluídos.

Antes que nos envenenem a liberdade,
vou convocar os pacientes em agonia
vou mexer no resto dos meus sonhos
e revitalizar as suas almas tristes
para que se cumpram os desígnios
dum Abril com pétalas de esperança…
vou convocar um magote de multidão
para dar luz aos olhos de cada criança
e dar pão aos humildes da nação. 

      Março de 2008
Joaquim Coelho
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     DIA DA ESPERANÇA

O tempo tudo desvenda
nada ficará oculto
na serenidade dos sentidos.

Dois corpos que se rendem
à evidência deste encontro
porque o amor não se inventa
e o destino não engana…
quando dois braços se cruzam
e apertam com carinho
nesta linguagem de gestos
que outrora não entendemos.

É longo o dia da esperança...
desfaz-se o sonho
quando o medo arremete
- deslumbrado de alegria
prendo-te nos meus braços
e o amor promete
um amanhecer mais sereno
onde a esperança renovada
faz brotar o amor interrompido
- e a vida tem outro sentido.

    Maia, 25 de Outubro de 1990
Joaquim Coelho
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