Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Poemas dos Tempos - Portugal 82

.


     SALVAR A NAÇÃO

Ao vermos reunir a hierarquia
não podemos continuar na ilusão
deste modelo de democracia…
agrava-se a fissura dolorosa
nesta desordem da traição
ordenada pela máfia tenebrosa
que falseia a paz e corrói a calma
inventa e disfarça a imagem
deste país sem alma
dominado por servis lacaios
que aprofundam a desigualdade
e reprimem a liberdade.

Dizem querer salvar a nação
com os poderes desconexos
e leis de extrema humilhação
dos cidadãos que produzem;
com os discursos convexos
tentam enganar os incautos
mas as palavras só seduzem
os seus mandarins arautos…
nem os parasitas ferozes
calarão as nossas vozes.

A injustiça que nos afronta
os ânimos e a acalmia
terá sempre resposta pronta
nas jornadas de cada dia.
Os discursos são indigestos
e os salários são de penúria
porque só ficam os restos
para aumentar a nossa fúria.

Quem mendiga os seus direitos
e sente o ultraje da repressão
não dará tréguas a esses sujeitos
que sugam o sangue e o suor
até nos atirarem p’ro caixão.

Joaquim Coelho
.
 ««««««««««««««««««««««««
..
     AS FACES DO OCULTO

Acreditar nos fantasmas do além
é aceitar o enredo da ocultação
que uns senhores da ladroagem
usam nas manhas da extorsão.

Aos ladrões faço um manguito!
uso raros truques de magia
para entender o país roubado,
mas vou perdendo a habilidade
de decifrar o fim do teorema
da trama dos finos arguidos
que tratam de chorudos negócios
e a justiça perdida no esquema.

Hei-de arranjar um sistema
para deitar mão aos ladrões…
vou construir um teorema
e desmontar a comandita
que se apodera do país
onde a secreta maldita
oculta essa corja de gestores
montados no orçamento
que nos faz mais devedores.

Peço aos cidadãos enganados
para mudarem de planeta…
cada vez mais espoliados
com a roubalheira pegada,
sendo a justiça uma treta
vamos tratá-los à bastonada.

        Valongo, Novembro de 2009
Joaquim Coelho






     NOITES ATRIBULADAS

Um gemido deleitoso ecoa
    na fronteira dos guettos
    - recanto esburacado da cidade –
e os corpos das donzelas impúberes
se agitam com gestos sedutores
no silencioso gesticular das ancas
ondulantes fontes dos amores…

Corpos aparentemente aconchegados
no recôndito dos sentidos hirtos
sem medo da devassada intimidade
saciam a carência da verdade
    onde os encantos mágicos
    premeiam a génese do Amor.

Segredos de alcovas luxuriantes
    de apetitosas madames emplumadas
emergem das noites perfumadas
cheias de harpejos deslumbrantes
e armadura de cambraia reflectora
    nos olhares dos meliantes
em cama alheia acolhedora.
 
Os ventres ansiosos e sedentos
     da frescura sumarenta
absorvem o líquido fecundante
empinado na calçada lamacenta
     com tanta sofreguidão
que o harpejo ejaculante
se contorce de gostosa emoção.

O contra-senso virtuoso dos amantes
encontra-se no amor flutuante…
      muitas vezes sem retorno
que devassa o instinto de quem ama
e deforma a razão de tanta entrega…
     um acasalamento morno
     quando se apaga a chama!

A orgia dos maldizentes alcoviteiros
    ostentada nos aparatos das janelas
deleita-se nos contornos das alcovas
de carnes recolhidas nas vielas…
    ambição das frutas novas
    em dias de fluxo menstrual
a convergir no gesto erótico-sensual.

A profundeza da consolação onírica
acasa-la no desejo de amar
além do sentido da devoção
     no enlevo do cio acrisolado
que transforma os gestos e impulsos
em gozo de profunda emoção
    dentro do corpo aliviado.

Os sucessivos orgasmos mornos
    expressos nas longas fantasias
movimentam as nervuras sedosas
    adornos das saborosas orgias
saciando os órgãos entesados
servidos nos cais conspurcados
    aos noctívagos forasteiros.

A contra-verdade deste império
está nos montes de carne pétrea
    trémula e desnaturada
que provoca agonia no reparo
    fantasia quente e masturbada
em lufadas de gozo às debutantes
que lambem o néctar mais caro.

O sentido destas vidas perdidas
    sem compromissos formais
oscila entre a sarjeta funcional
e a carícia fria e mecanizada
afinada no encontro ocasional
    momento de gozo gotejante
na caverna tenra da debutante.

O drama adensa a marginalidade
dos contactos inseguros e frios…
enchem-se os ventres contorcidos
das donzelas impúberes desprevenidas
     presas às ciladas da vida
amarguradas com o destino infeliz
rendidas à solidão das avenidas
     onde esperam que nasça o petiz.

(viagem nas noites lisboetas)
Joaquim Coelho
 ..
.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Poemas dos Tempos - Portugal 81

..

      ÀS ARMAS!

A embriagues do chinfrim
ao toque do clarim…
os soldados correm, correm
    na dureza da parada
evitando a severa “ecada”
para cumprir a convenção
todos rastejam no chão…

Uns são especialistas
outros pára-quedistas
alguns mais comodistas
e os que não estão nas listas
habilidosos no desenrasca
matreiros a dar à casca.     

Filhos de muitas mães
mal ou bem amamentados
são os alegres soldados
prontros para os enredos
das mais inóspitas regiões
onde desvendam os segredos
na eficácia das missões.

        Tancos, Junho de 1961



     AS FACES DO OCULTO

Acreditar nos fantasmas do além
é aceitar o enredo da ocultação
que uns senhores da ladroagem
usam nas manhas da extorsão.

Aos ladrões faço um manguito!
uso raros truques de magia
para entender o país roubado,
mas vou perdendo a habilidade
de decifrar o fim do teorema
da trama dos finos arguidos
que tratam de chorudos negócios
e a justiça perdida no esquema.

Hei-de arranjar um sistema
para deitar mão aos ladrões…
vou construir um teorema
e desmontar a comandita
que se apodera do país
onde a secreta maldita
oculta essa corja de gestores
montados no orçamento
que nos faz mais devedores.

Peço aos cidadãos enganados
para mudarem de planeta…
cada vez mais espoliados
com a roubalheira pegada,
sendo a justiça uma treta
vamos tratá-los à bastonada.

        Valongo, Novembro de 2009
Joaquim Coelho
««««««««««««««««««««««
.

     GARRAS DO PODER

Garras dos governantes soberanos
ditam leis que causam danos
na vida dos servos machos,
de tão arrogantes e sem vergonha
são uma praga de peçonha
agarrados aos melhores tachos.

Ao suprimirem reais direitos
do futuro que é o nosso
ficar quieto não posso
nem ignorar a voz da razão
dos portugueses patriotas
que deram luz à libertação.

Essa gentalha da política podre
engorda que nem um odre
e já arreganha os dentes
aos ingénuos combatentes
de espingardas feitas de cravos
trata-os como indigentes
e fazem dos cidadãos escravos.

Contra a injustiça medonha
que nos causa sofrimento
e sobressaltos na velhice
não aceito a ladainha enfadonha
da conjuntura da nação…
porque será grande tolice
dar tréguas a essa escumalha
sem pensarmos na insurreição.

Abril de 2007
Joaquim Coelho

....

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Poemas dos Tempos - Angola 80

.


              PRECES

Nesta noite que não termina mais
sinto a alma esfacelada...
com o corpo aos trambolhões
gritando bem alto os seus ais!

O ribombar das detonações
em diedros devastadores
incendeia o ódio e o terror
e destroça os corações...

Asas nos céus em tons de prata
por cima dos morros de Quicabo
deixam um campo de cadáveres
pintados no quadro que não acabo
antes do alvorecer tempestuoso!

E as mães de coração ferido
deixam espalhar na floresta
o clamor do seu grito dolorido
ao perderem o sangue que resta.

Vejo a criancinha estonteada
no meio do fogo da sanzala...
com o fumo a encobrir o dia,
reneguei a farda enlameada,
perante o temor duma bala
perdi todo o fulgor de valentia!

          Quicabo, Março 1962

    Joaquim Coelho





              PRECES

Nesta noite que não termina mais
sinto a alma esfacelada...
com o corpo aos trambolhões
gritando bem alto os seus ais!

O ribombar das detonações
em diedros devastadores
incendeia o ódio e o terror
e destroça os corações...

Asas nos céus em tons de prata
por cima dos morros de Quicabo
deixam um campo de cadáveres
pintados no quadro que não acabo
antes do alvorecer tempestuoso!

E as mães de coração ferido
deixam espalhar na floresta
o clamor do seu grito dolorido
ao perderem o sangue que resta.

Vejo a criancinha estonteada
no meio do fogo da sanzala...
com o fumo a encobrir o dia,
reneguei a farda enlameada,
perante o temor duma bala
perdi todo o fulgor de valentia!

          Quicabo, Março 1962

    Joaquim Coelho

.<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<
.
             MALDITA ESPERA          

Terás sentido a chama flamejante
que atiçou o fogo desta paixão?
não chegaste a descobrir as delícias
do coração encantado na tua beleza;

os encontros não podem ser secretos
mesmo longe das convenções
quando os corpos sentem o fervor
entrelaçados no gozo da luxúria
que redime o delicioso desassossego
das loucuras da paixão com amor.

Longe da maldita inquietação
num espaço de rara tranquilidade
gostava de ter o faro de um cão
para não perder tempo com os desejos
que me deixam desgraçadamente
à espera dos teus deliciosos beijos!

Não me poderás imolar sem dor...
só porque gosto da verdade no amor
e da ternura sentida com esmero
podes sacrificar-me o corpo sofrido
sem o lançares no cais do desespero.

   Luanda, Dezembro de 1961
Joaquim Coelho

 ..
.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Poemas dos Tempos - Angola 79

.

 O REGRESSO DO GUERREIRO

                       1
Na noite fresca das memórias
impressas no fervor do combate,
atrevo-me a percorrer a picada
   fugir ao abandono da vida...
enterrar a violência em movimento
   até sarar a dolorosa ferida!

Abrir novos caminhos ao vento,
resgatar os corpos abandonados
reabilitar a alegria dos soldados; 
construir caminhos longos, serenos,
    límpidos dos ódios e da morte;
absorver o sol nos dias amenos
desvendar as atrocidades do norte
construir um barco transparente
e embarcar em paz com toda a gente.
          
                           2
O regresso é motivo de alegria,
mesmo ao toque da metralha,
quando é passado mais um dia
sem cair na sepulcral mortalha.

  Na chegada o abraço da malta
  e a alegria do silêncio sobressai,
  do companheiro noto a falta...
  até o bater do coração descai.

É bom adormecer na nossa cama...
acordar com o cantar primaveril,
é a manhã soalheira que me chama
... logo, estarei longe do Grafanil.

                    Quicabo, Janeiro de 1963

Joaquim Coelho




      UM DESAFIO    

Daqui lanço o desafio espiritual
contra os oportunistas das emoções
desavindas nos atalhos da cultura;
revelo ao mundo inteiro, afinal
o propósito da campanha absurda
engajando colonos em noite escura
que vagueiam por aí desatinados...

Acabe-se com a ignorância lusa
que campeia nos novos desalojados
arrabanhados nas humildes aldeias;
atraídos pela promessa difusa
das colheitas despidas de ideias
em terras onde o lucro é uma trama
com gente ignóbil que os  engana.

Este é o meu sério desafio à vileza:
difundir a razão dessa incerteza
que paira nas terras de Angola
e combater os que vivem à gola!

A verdade tem a grande nobreza
de evitar que as dolorosas lágrimas
vos deixem abatidos na pobreza,
enquanto os mortos inocentes,
se acomodam à luz dos crentes.

         Luanda, Junho de 1962
Joaquim Ceolho

«««««««««««««««««««««««««««««««««««««««
.
      NOITES FRESCAS

Eu sonhara nas noites frescas
que eras tu ali tão longe...
entre nós existe um deserto
e afinal estás aqui tão perto
que nem sei se me perdi...

A distância não tem razão
para desfazer esse enlace
que te atrai sem presunção,
leve como os sonhos quentes
de qualquer ave que voasse
em busca dos beijos ausentes
que se evaporam na vertigem.

Tentemos voltar à origem
na lonjura do pensamento
animador da nossa vontade,
é um desejo que vai no vento
como o arfar de felicidade.
 
Procuro entender o critério
até à fronteira da incerteza
que atormenta o amor-mistério
onde se perde a casta beleza
dos frios beijos sem retorno;
no teu corpo pudico e morno.

Acaricio a melancólica solidão
e sinto as agruras da descrença,
onde a indiferença sem razão
atormenta a tua presença;
é uma esperança do desejo
para acalentar o frio beijo.

Nas noites frescas sonhara
que estavas ali, tão longe
embriagada na longa distância
reprimida no fascínio da verdade;
quando a solidão nos atraiçoa
o amor deixa-nos sonhar à toa!

         Negage, Maio de 1962
Joaquim Coelho
..

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Poemas dos Tempos - Angola 78

.

   DESVENDAR OS ENREDOS

Ando com o corpo marcado
pela incontida ingratidão
da gente perdida na ilusão
de que guerra é coisa de soldado…

Há por aí muito mascarado
a vender os seus segredos
mas hei-de desvendar os enredos
que nos têm enganado.

Talvez o cheiro acre da guerra
os deixe sonhar em paz…
esquecem que tudo quanto se faz
pode deixar os sonhos na terra.

As prolongadas vozes em viagem
das silhuetas rastejantes
deixam-me emergir na miragem
da justa punição dos tratantes;

e se a amargura não encerra
as querelas que nos causam mal
deixaremos alastrar a guerra
e regressamos ao nosso Portugal.

           Negage, Janeiro de 1963

Joaquim Coelho



.
      DIA TRIUNFANTE

Aqui… distante
sem ter ninguém a comentar
o meu sonho irreverente
para a tristeza disfarçar.
O sonho é sempre esperança
como uma fantasia ingrata!

Saudades do tempo de menino
quando caminhava seguro
pela mão de minha mãe
nada temia do futuro!

Agora… de corpo acabrunhado
e a alma triste e desalentada
ando ladeado de capim
galgando as matas agrestes
e arrastando a mochila.

Se eu pudesse contar as paisagens
e os seus verdores engalanados
sentado como de costume
no regaço de minha mãe
e conter as lágrimas amargas
nos olhos ainda toldados
pelas últimas visões da guerra
estaria feliz com mais soldados
a semear a paz nesta terra.

Mas eu hei-de voltar um dia
que não será muito tarde
para percorrer os caminhos
de odores nos campos semeados
e às crianças darei mais carinhos;
os olhos ainda semi-cerrados
abrir-se-ão com mais esperança
de encontrar dias de bonança.

Na transformação deslumbrante
gritarei aos cidadãos indecisos
a vitória da minha ventura...
Hoje é o meu dia triunfante
e vou distribuir violetas
para esquecer a desventura
sem o odor das pétalas pretas.

Luanda, Outubro de 1962

Joaquim Coelho
«««««««««««««««««««««««««
.
     O PÁSSARO FELIZ

O avião voou tarde e bem roncou.
Regressei ontem... aqui estou!

- Amor, andas embrenhado na guerra
e não encontras tempo para o amor!

Querida, mas hoje é domingo...
acordei como um pássaro feliz,
alegre por sentir esses lábios
de fogo... como sempre quis.

- Hoje não sinto o mesmo ardor
dos teus beijos... não eram assim!
Os teus lábios sabem a pólvora
e têm a secura do capim...

Põe as mãos nos olhos, abertos...
pergunta ao vento quem é o inimigo.
Abre os olhos como duas janelas...
cuidado com os sorrisos que semeias,
para eu não perder a esperança
que trago dentro do peito...

- Amor, eu não tenho outro jeito 
para refrescar a tua boca...
e o meu sorriso é natural
como as flores que despontam
em qualquer jardim divinal...

Vou adornar-te com delícias
tomar-te pela cinta a ternura,
meu anjo de intensa formosura...
enquanto as tuas carícias
repousam na minha boca,
entro no segredo do silêncio
onde absorves a seiva louca
entrincheirada nos corpos
com leves aromas das flores...

assim acordámos abraçados
na efémera hora de amores,
aqui no jardim entrelaçados!

           Luanda, Maio de 1962

Joaquim Coelho
.
.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Poemas dos Tempos - Angola 77

.

    REI DESTRONADO

Fui atirado para a guerra
em terras tão longínquas
que deixei de ver borboletas
dando voltinhas no ar…
fujo das mulheres pretas
para não me verem chorar!

Longe dos campos ancestrais
vejo o fim em cada esquina
e temo não voltar mais
à terra que tanto me estima.

Entro nas matas e as ramagens
deixam a alma despedaçada;
são perigosas as viagens
e põem o corpo moribundo
a caminho da campa sem fundo.

Há um fantasma devorador
a atormentar a minha alma
tento afastar esta dor
para viver com mais calma!

Ao fantasma eu mandava
até aos píncaros do inferno
para ver se o queimava…
mas sendo um rei destronado
vivo sempre amedrontado
sem força… um mal eterno!

         Quitexe, Março de 1962

   Joaquim Coelho




           MADIMBA
.
Quando entro na mata em silêncio
a memória atenta logo me desperta
a proximidade da morte que desliza
na ribeira ondulante e fico alerta;
o inimigo espia cada movimento
esquivando-se ao golpe de mão
mas ataca sempre à traição.
.
O medo que nos envolve no vento
parece persistir no espaço da vigília
e até no ar que respirámos...
cada caminhada é uma perícia
dentro da madrugada silenciosa
este penetrar na mata adormecida
numa busca atenta, dolorosa
natureza que esventrámos
para combater os inimigos da paz,
com profunda certeza, sonhámos,
nesta Angola que muito nos apraz.
   Maquela do Zombo, Junho de 1962
   Joaquim Coelho
«««««««««««««««««««««
.
         AMOR MORTIFERO

Impudica donzela envergonhada
que me seduzes irremediavelmente
é inútil que me afagues mansamente
na miragem dos corpos famintos,
afasta de mim o teu olhar suplicante
que fulmina os meus desejos…

Abandona a presunçosa gratidão
que brota das tuas palavras ocas
deixa que seja a voz do coração
a convergir as nossas bocas.

Aos deuses do amor suplico
que me afaste dos teus beijos
e me arrefeça os desejos...
bem amarfanhado eu fico
ao possuir teu corpo sensual
num lúbrico contacto casual.

É na força dos corpos quentes,
que campeia toda a graça
dos sussurros semi-inocentes
que despertam toda a praça;
és a envergonhada donzela
debruçada sobre a janela.

Gosto das impúdicas seduções
a despertar os desejos sensuais
sem as corporais limitações
dos amantes em sonhos reais;
a distância é uma natural reflexão
enquanto vítimas do coração.

  Luanda, Novembro de 1962
   Joaquim Coelho
.
.