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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Poemas dos Tempos - Moçambique 67

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     VENTOS NOVOS

Não pedi guerras nem matanças
nas florestas onde as andanças
são o desconforto incessante
destes climas tropicais
a tolher o valor dos ideais.

As curvas dos trilhos e das picadas
mostram  sinais que amedrontam
quando as mortíferas emboscadas
deixam rastos de desgraça
nos combatentes que as defrontam
em cada momento que embaraça.

As nossas forças são a razão
do sofrimento que atormenta
a realidade da convicção
que os ideais dos novos ventos
sopram na direcção sacrossanta
dando vida aos pensamentos
que nos saltam da garganta.

        Diaca, Setembro de 1967

Joaquim Coelho
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       LÁGRIMAS FURTIVAS

Na vibração doce e harmoniosa
as saudades revivem o esplendor
sem tormentos tristes de dor
em cada noite silenciosa.

Um sono longínquo, profundo,
no mundo angelical do pranto
     que és tu nesta saudade
dos versos suaves que te canto
com a simplicidade dum menino
que enfrenta as torrentes esquivas
neste mar picado com o destino
de vida ausente e lágrimas furtivas!

São poucos os dias… e os sonhos
cruzam-se na mesma palma
coberta de tormentos e nostalgias
ferindo a nossa própria alma…
não sei se vou sentir as alegrias
do pensamento sacrossanto
que leve as lágrimas furtivas
para longe deste meu pranto!

         Macomia, Abril de 1966
Joaquim Coelho



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         BLUSA SOLTA

Acordei alegre p'ra vida
e o coração todo se ufana
a pensar em ti Mariana...

estejas tu onde estiveres
hei-de encontrar os diamantes
que trazes junto ao peito
onde misturas as químicas
dos perfumados prazeres...

e os corpos riscando o fogo
numa imagem concertada
que me oferece o abrigo
dentro da blusa desapertada 
       escondido nessa sombra
ponho as mãos cheias de amor
no coração de sentinela
que se abre com fervor
como se fosse uma janela.

        Beira, Março de 1968

Joaquim Coelho
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1 comentário:

  1. Setembro de 1967, quando estava em Mueda o BC1916, de que fiz parte... Deixei Mueda e o batalhão, em fins de Outubro desse ano, com destino a L.M. . Estes poemas tornam presente o que sentimos naquele lugar. São memórias que guardo no abraço amigo dos camaradas que vamos encontrando anualmente.
    Bela a poesia, embora retrate as contradições e o sofrimento por que passámos, ainda meninos, numa guerra que não pedimos.
    Um abraço

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