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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Poemas dos Tempos - Port 54


    PASSEIO COM FLORES

É um deleite inebriante
ouvir das aves o som cantante
desaguar no jardim de flores
e colher as pétalas vistosas…
sentir das rosas os odores
e comer as frutas gostosas.

Ando pelo Porto a ver os jardins
canteiros de rosas e jasmins
nos Clérigos antes do arrebol,
vejo flores belas de todas as cores,
pássaros espreguiçados ao sol
e a relva a rugir nos sapatos sujos…
há gansos a nadar nos lagos
imitando braçadas dos marujos
saídos dos barcos em Leixões,
como as pombas esvoaçantes
para curtir as breves paixões.

É bela a geometria dos canteiros
onde os patos têm fecundidade,
parecem paraísos ajardinados
que os coitados dos cantoneiros
tratam com zelo e prontidão
recolhem os ovos inseminados
e deixam um gesto de gratidão.

Porto, Jardim da Cordoaria

Joaquim Coelho




           CRISE DE CONFIANÇA

Quando tropecei na sombria cascata
e me confundi com transeuntes da cidade
nem senti o aperto da gravata
amarrada à loucura da humanidade
que põe as vidas em clivagem
e deixa os homens no sono clandestino
com o futuro penhorado lentamente
há sombra da felicidade insolvente.

Quando deixamos fugir as memórias
que nos acalentaram sonhos de vida
sucumbimos ao vento que canta uivante
a serenata da guerra com negras estórias
e um amargo sentimento frustrante
engalfinhado nas lamúrias
dos famintos nas ruas recrutados
para os confrontos ampliados.

Quando damos conta da indiferença
perante o direito e a justiça atropelada
pelos políticos regalados na contra-dança
ainda sentimos uma inveja apiedada
só porque os gananciosos se saciaram
os corruptos viajaram para as ilhas
e os gestores também se reformaram;

então, descobrimos porque fomos dóceis
ao votarmos sem firmeza nas convicções
e nos quedamos nas margens do mundo
enquanto se esfumam muitos milhões
- se foi puro engano ou cobardia
saberemos quando sairmos do fundo
cheios de coragem e mais valentia!

Joaquim Coelho
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   SEMEAR ESPERANÇA

Na minha nação amordaçada
a democracia é uma chalaça
com as fortunas em debandada
e os ladrões roubando a taça;
tantos rufias bem instalados
na manjedoura nacional
ficam os pobres espezinhados
à míngua dos restos de Portugal.

Gente de bem a passar mal
por faltar a justiça e o pão…
esta pobreza não é banal
dentro das fronteiras da nação;
muitas ideias da populaça
contra a política que detesta
só o governo não acha graça
quando o povo se manifesta.

Acertaremos contas sem favor
com esses vilões do pavor
que me deixam acordado
pronto para a humilde rebelião
contra o medo recusado
que traço por minha mão.

Façam-se ouvir outras vozes
contra os trituradores do amor
que tanta falta nos faz…
juntando a força e o fervor.

Contra o tédio e sem armas
temos que espalhar a esperança
nos corações mais humildes
e no sorriso de cada criança.

   Joaquim Coelho
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