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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Poemas dos Tempos Angola 39


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Somos nós, os portadores da semente,
os escolhidos para alcançar a vitória!
Cada emboscada é sempre diferente
se a razão fecunda a nossa memória,
saltando do ar no céu de Sacandica
fica escrito mais um dia de glória…
a bandeira sobe e a Pátria estica.

Há outros bravos conquistadores
com a sagacidade dos caçadores…
os valentes avançam sobre o reduto
do inimigo tenebroso e astuto
que dizimou milhares de inocentes.

Muxaluando já ficou para trás…
os soldados… no seu esforço, crentes,
sabem que a guerra pode trazer a paz
aos povos que vivem descontentes.

Nambuangongo fica no próximo morro
onde os bandidos da UPA pedem socorro
e fogem como galináceos escorraçados;
mas os bravos soldados do Maçanita
não dão tréguas e vão ao assalto…
de tanto esforço foram compensados
ao içarem na igreja a bandeira bendita.

               Luanda, Setembro de 1961
Joaquim Coelho



                       CERTEZAS

Aqui não há espaço para a fantasia
como no tempo del-rei do universo
prque abrimos caminho ao pensamento
que há-de germinar em qualquer dia
em que a liberdade venha com o vento.

Quando nos atacam os bandoleiros
não há tempo para feitos de glória…
enquanto os colonos trapaceiros
distorcem a verdade da nossa história
o inimigo confunde-se com o diabo
nos labirintos das sombras de medos
e a cumplicidade da mira telescópica
onde as balas percutidas com os dedos
apontam ao derradeiro sorriso
deixando os corpos a estrebuchar
com as carícias no gatilho preciso.

Não negamos as lágrimas desprendidas
na ausência dos sonhos que morrem
naqueles que caem de bruços
quando se finaram na mata sinistra
que rasgou os corpos nesta fúria
contra a ignóbil ingratidão
que incendeia os ódios contra a razão
da voragem do sangue derramado
por um império que nos é recusado.

           Negage, Março de 1962
Joaquim Coelho


 
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       CÂNTICO DOS DELÍRIOS

A vida cheia de sonhos renascidos
balança ao ritmo da nobre sabedoria
que se resume na castrada memória
onde até os prazeres são convertidos
em sensações de leveza ambulatória. 

Insubmisso ao cântico dos delírios
mesmo carente de consolo lascivo
basta sentir latejar no teu peito
desejos peregrinos que colhem os lírios
do amor que sabes destilar a teu jeito.

É uma benção andar neste fado
onde afago a morte com desdém
a guerra deixa-me a vida intercalada
uns dias tristes, de dor revoltado,
outros com gemidos da bem amada.

               Luanda, Janeiro de 1962
Joaquim Coelho
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