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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Poemas do Tempo da Guerra 25

.. OS DESTERRADOS

Miteda de trincheiras recortada
Onde todos os dias são contados
Em desespero da vida amortiçada
Nos homens de corações aterrados.

Dores plangentes do porvir
Que aos soldados dão tristeza
Quando a vontade de partir
Se funde na miséria da pobreza.

Nos caminhos distantes e inseguros
Os corpos avançam torturados,
Quando a impunidade dos maduros
Maltrata os seres desumanizados.

Enfrentamos a aspereza do capim
Granjeando laivos de vida e rumo
Para o abismo que espera por mim
E ensombra a razão do meu prumo.

Os olhos turvados, semi-cerrados,
Não atinam com o desejado bem
Porque a malícia dos refinados
Limita o horizonte a quem convém.

Porto Amélia, Janeiro de 1967
Joaquim Coelho
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.. DETONAÇÃO

Tanta dor e sofrimento a desabar
por cima dos corpos que respiram
o sentimento da negação a gritar
ao longo das picadas de Miteda…

ao ver o estrago da granada detonada
invoquei aos deuses da selva densa
que nos libertem da besta assanhada
até nos aliviarem deste inferno
para que o sol e alguma esperança
sare as feridas que nos doem…

enterrados os mortos na santa campa
e entregues à liberdade das aves
amparámos os feridos graves…
enfermos duma estranha guerra
já embarcam para a sua terra.

Miteda, Julho de 1966
Joaquim Coelho


.. SAUDOSA MUSA

Como uma estrela cadente
passaste fugaz no meu caminho,
foi um tempo bem vivido…
e tu soltaste-te da minha vida
como uma estrela na constelação
que se apagou no espaço da emoção.

Se acaso pudesse encontrar-te
entre tantas outras estrelas belas
revolveria o mundo até ao eixo
e ao encontrar-te saudosa musa
saberias o mal de que me queixo
por ter regressado à terra lusa…
mesmo que as balas assustassem
tivemos tempo para a despedida
junto ao mar que nos separou
na derradeira carícia consentida.

Lourenço Marques, Março de 1968
Joaquim Coelho
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.. FRUTA GOSTOSA

Pareces uma ninfa sonhada
de contornos belos e formosos
no palácio das ilusões sentada
minha musa de sonhos gostosos.

Esses teus olhos cintilantes
com o brilho dos diamantes
são duas safiras com jeito
que me deixam satisfeito.

As faces coradas a primor
embelezam os lábios sedosos
e o semblante gentil e sedutor
desperta desejos maviosos.

Esse sorriso que me encanta
na certeza do que mereço
lampejo de amor que me espanta
em cada beijo que não esqueço.

Cada vez que te cingi ao peito
a respiração acelera airosa,
mas dás sempre aquele jeito
servindo a fruta gostosa.

Beira, Dezembro de 1967
Joaquim Coelho
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